Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Hey you

“...e eu me destruo
me desconstruo
me transformo por você.
E você nem nota.
E o brilho dos seus olhos me perturba
E o seu sorriso sem sentimentos aparentes me perturba.”

“O que você está escrevendo?” Perguntou o rapaz olhando por cima do ombro da garota.
Ela resmungou e tentou fechar o caderno, mas ele era mais rápido e os dedos longos afanaram o caderno. Seu estômago deu uma volta completa, mas ela não o impediu de ler.
“Poesia? Tão típico de você...” Essa doera. Seus olhos se estreitaram, se ele soubesse como o descaso dele machucava... Não daria a mínima como não dava naquele momento.
“Por que você faz tantos poemas?”
Ela pensou um pouco antes de responder.
“Porque, assim, posso entregar o meu coração para quem deve ser entregue sem que essa pessoa necessariamente saiba disso.” Retrucou, olhando-o muito fixamente.

Hey you,
Out there in the cold,
Getting lonely, getting old,
Can you feel me?

Hey you,
Standing in the aisle,
With itchy feet and fading smile,
Can you feel me?
“Posso perguntar para quem é?” O sorriso debochado e superior dele a irritava, dava-lhe vontade de dar-lhe um tapa e, em seguida, um beijo para calar-lhe a boca e tirar-lhe esse sorrisinho superior. Obviamente, se ela o fizesse, o sorriso só aumentaria.
“Claro que você pode perguntar. Pode perguntar o que você quiser, é um país livre. E eu posso responder o que eu quiser. É um país livre, mon cher.” Retrucou, agarrando o caderno que ele já folheava.
“Conhecendo você, eu posso afirmar que esse poema é para a mesma pessoa que você fez todos os outros. E posso afirmar, me conhecendo, que meu sorriso não é desprovido de sentimentos.” Ela pode sentir o rosto empalidecer ante aquela afirmação. Mas não cederia, não deixaria aparente o seu desconcerto. Os dois nunca cederiam.

Hey you,
Out there on your own,
Sitting naked by the phone,
Would you touch me?

Hey you,
With your ear against the wall,
Waiting for someone to call out,
Would you touch me?
“Sua arrogância só cresce com o passar dos dias. O que o leva a crer que este poema e todos os outros são para você? Que o sorriso ao qual eu me refiro é o seu? Pode ser para aquele meu velho amor, para o fantasma que você me mandou esquecer.” Ele fechou a cara, mas o sorriso tão conhecido brincou novamente nas faces rosadas por conta da pele branca combinada com o excesso de sol.
“O que está ouvindo?” Perguntou, apontando para os fones do mp4 que estavam nos ouvidos dela.
“Minha música-vício atual.” Ela respondeu de pouco caso, não dava a mínima para a mudança de assunto. Sabia que ele era assim mesmo. Quando algo o incomodava, ele mudava de assunto e voltava a ser a fria neve eterna da inalcançável montanha.
Ele puxou um dos fones e o mp4 da mão dela. Olhou para o visor e resmungou o nome da música.

Hey you,
Would you help me to carry the stone?
Open your heart, I'm coming home.

But it was only, fantasy.
The wall was too high, as you can see.
No matter how he tried, he could not break free.
And the worms ate into his brain.
“E, te conhecendo como eu te conheço, posso dizer com quase toda a certeza que você ouve essa música pensando na pessoa para quem faz os poemas e que já fez um poema baseado nela.”
Foi a vez do sorriso superior dela iluminar o rosto redondo que seria supostamente infantil se não fosse a expressão constantemente fechada e os olhos que, inquisidores, encaravam a tudo e a todos com a mesma intensidade.
“Você está dizendo demais hoje que me conhece bem. Você, o senhor-arrogante-e-egocêntrico-sabe-tudo, acha que me conhece bem demais. Mas talvez apenas desejasse isso.”

Hey you,
Out there on the road,
Always doing what you're told,
Can you help me?

Hey you,
Out there beyond the wall,
Breaking bottles in the hall,
Can you help me?
Ele apenas ficou quieto. Um sorriso deliciado percorreu seus lábios quando ele pôs um dos fones no ouvido e escutou justo o verso que queria, como se fosse um sinal.
“Eu podia fazer o que você quer, sabe? Mas só se você pedisse.” Ela o olhou fixamente, pensou em muitas bobagens que queria que ele fizesse e teve consciência de que suas bochechas ficaram vermelhas. Umedeceu os lábios, mas não disse o que queria que ele quisesse ouvir.
“Do que está falando?” Perguntou, com a voz falha. Ele se aproximou ainda mais e um de seus dedos enroscou-se em um cacho particularmente fofo do cabelo dela.
“Por que sempre me faz perguntas que já sabe a resposta? Peça. Apenas engula o orgulho e peça.”
A voz não queria sair. Não queria. Eles não tinham consciência de que a música já tocava de novo. Sem saber o que fazer, ela começou a cantar junto com a música.
...Would you touch me?” Ele nunca a deixou passar desse verso, considerou como se fosse o pedido que queria ouvir e puxou-a para um beijo. O beijo que há meses ela esperava.
E o sorriso arrogante dele só se alargou quando se separaram, exatamente como ela previra.
“Por que os seres humanos são tão complicados?” Ela murmurou, ainda aninhada em seus braços.
“Não são os seres humanos que são complicados. Somos nós dois que complicamos as coisas mais simples.” Ele respondeu, aspirando o cheiro que tanto gostava: o dela.
“E por que fazemos isso?”
“Porque, senão, seríamos outros que não nós.”

Hey you,
Don't tell me there's no hope at all.
Together we stand, divided we fall.

3 comentários:

Unknown disse...

Gostei particularmente desse (:

Magoon

Beatriz disse...

Gostei do post.

Sinceramente você escolheu a pessoa errada pra te ajudar. Não sou indicada pra essas coisas kkkkk.
Pra melhorar o conteúdo, não sei o que dizer, tá muito bom mesmo!
Agora se você quer melhorar a imagem dele? Olha, eu não sei explicar direito, mas se quiser mesmo arriscar comigo (!), me adiciona no msn (bia_glb@hotmail.com).
Beijos ;*


CAMPANHA APOIADA!

Anônimo disse...

aah, ameeei esse *-*