Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Ensaios

"Não ganhei uma torre, mas ofereceram-me uma cama
junto aos outros cortesãos. Observo-te dormir
em meus sonhos, pois na realidade há dosseis

que protegem teu rosto. Sinto que estou ficando
doente de novo e, juntos, ensaiamos alguns passos.
Nossas mãos se tocam e se afastam e eu sinto um calor

que nada tem a ver com meu pesado vestido.
Quero tocar tua máscara veneziense e sentir o veludo,
quero arrancá-la e quero que teus abismos

busquem somente a mim. Tocam e se afastam.
Quero colar meu tronco no teu e sentir tua pele.
A música acaba e enroscas um cacho de minha peruca em teus dedos.

Beija-a e te afastas. Fico parada no salão,

Morgana, sentes que vais desmaiar..."



Esse poema e os dois últimos fazem parte de uma série que sabe-se lá quando vai acabar.

Expectativa

Dentre todas as máscaras do baile,
a tua era das mais discretas.
E estavas tu no grupo da pequena nobreza.
(Ou será que a Alta veste-se discretamente aqui?)

De fato, eu estava olhando para o cortesão ao teu lado.
Lembro-me de tê-lo convidado para valsar certa vez, em outra Corte.
O Conde, chocado, recusou-me e agora traz uma bela mascarada com ele.

Pensava em como os bailes são estranhos, já que
eu e ela estamos vestidas de ninfas,
(Mas são ninfas tão diferentes!)

E foi aí que te vi. Calmo, não vi-te dançando com ninguém.
Todo debruado em negro, lembravas-me meu corvo
(Por que esta fascinação com os Pássaros Noturnos?)

Estou girando sozinha e te olhando por cima do ombro.
Sei que me olhas também, não sei por que.
Me convidarás para uma valsa?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A Côte d'Azur

Os voejos graciosos dos pares valsantes
me põem medo. Dispensei Merlin e agora
deveria voltar a girar sozinha e morder os lábios,

mas não conheço esta Corte ou sua nobreza
e não tenho ideia de como lhe serei útil.
Rirão se eu tirar uma moeda da orelha do Rei?

De todos os bailes dos quais já participei,
este, de longe, é o mais familiar e estranho.
Reconheço alguns mascarados sem saber
de fato, seus rostos.

E o que fazer com as melodias que me são familiares?
Não dançam aqui o Minueto que eu conhecia, embora
saiba alguns dos passos valsados.

Morava em um Castelo frio no qual o Rei concordara
em ceder-me uma torre marmórea. Que faço eu
neste Palácio iluminado e cheio de vitrais?

Pense positivo, Morgana, agora suas noites serão
cheias de silêncio...