Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Tempo cíclico

Antes de entrar para a escola, quando eu tinha seis anos, sequer dormi na noite anterior ao início das aulas.
Devia fazer calor no dia porque era fevereiro e porque eu me lembro de todas as crianças de shorts ou saias-shorts.
Acho que é impossível esquecer o uniforme da Oga Mitá, seu tom de azul, sua camisa sem manga cujo elástico fazíamos questão de arregaçar antes do fim do primeiro trimestre e que, também antes do fim do primeiro trimestre, já estaria manchada de uma infinitude de coisas; o espaço nos dava uma paleta enorme de opções para “decorarmos” as blusas branquinhas que minha mãe e depois também a Ligia tinham tanto trabalho para lavar. Ficava ao gosto do freguês: podia ser terra do jardinzinho da frente, areia do pátio, o lanche do dia, muitas opções de canetinha hidrocor, tinta guache para os ousados e fluídos corporais (como sangue e meleca) para os mais porquinhos. No segundo ano, o Mateus da minha sala escolheu geleca, menino criativo.

Voltando ao tema original do texto, a lembrança mais antiga que eu tenho da Oga é daquele primeiro dia. Eu me perdi entre as turmas e, como tinha me recusado a ser alfabetizada até então, não podia identificar qual era a minha sala. Ainda no meio da confusão, uma moça simpática me resgatou e eu não tenho a menor ideia de quem foi. Só sei que, pelo meu nome, ela viu que eu era do Xicrins Oré e me levou até o bolinho de crianças que seria a minha turma pelos próximos quatro anos.

Quatro dos melhores anos da minha vida.

Tudo isso porque, hoje, ao me inscrever para as disciplinas na faculdade, eu me perdi no meio das salas do IFCS. Mesmo sabendo ler, não havia plaquinha na porta da sala onde eu deveria estar e, de novo, fui salva por uma moça simpática que me guiou até onde a minha nova turma (uma fração dela) estava.
Como serão esses quatro anos?

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Vaidades

À minha volta, as vaidades correm soltas como crianças.
Me rio delas e de mim, pois sou sua prisioneira.
Vaidosa morena, cobre teu corpo de jóias e exibe teu sorriso.
Vai, menina, dança com teus demônios, sê a princesa que gastou seis pares de tamancos em uma noite.
Vai, bruxinha, se enfeitices com o espelho, deixa teu rastro de loucura.
Toco a flauta em meu canto e adormeço minhas crianças.
Shhh...

2009