Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Passos

De fato, uma vez removida a máscara,
teus abismos se aquecem e me encontro
tranquila de olhar-te nos olhos.

Quando dançamos nosso número particular,
títulos e categorias desaparecem.

Torno-me o mais perto e o mais distante de uma princesa.
Ou não me torno nada?
Não sei e não importa, apenas me gire de novo.

A caçada

Risadas dos cortesãos
e pegadas na grama.

O “gato-mia” da Corte corre solto
e salto troncos caídos para escapar.

(Finalmente alguma vantagem esta roupa de ninfa me deu.)

Me encosto contra o musgo de uma árvore,
buscando proteção. O cetim arranha minha pele graças à respiração rasa.
-Graças à corrida.

E então surges sabe-se lá de onde. Não me movo,
se é para ser capturada que seja por ti.

Incrível! Mesmo o cetim me incomoda,
mas tu não dá mostras de estar embaraçado no veludo.

Se eu respirava rápido antes, agora o coração falhou uma batida.
Teus abismos! Teus abismos precedem as doces garras cruéis!

Espero o toque que, malicioso, adias.
Fecho os olhos com um suspiro e,

por fim, arrancas nossas máscaras.
Explosão! Agora sim as festas da Corte são divertidas.

Brechas

Dançamos, por fim.

De início pensei que fosse apenas mais um ensaio,
mas então não afastaste minha mão quando tentei tocar tua máscara.

(O veludo era ainda mais suave do que aparentava)

Arrancamos-la. E meu medo de perceberes
minha ausência de ritmo perdeu o sentido.

Tudo perdeu o sentido ao dançarmos
pele contra pele, mais suave que meu cetim e teu veludo.