Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Desengaiolar

De mim brotam sons alegres e lágrimas de alívio.
Toneladas de cimento, de meus ombros removidas.
O contentamento veio travestido em notícias

E sinto, como por magia,
O medo das marcas desaparecerem.

É como se um vento soprasse dizendo:
"O mundo sabe que o seu segredo é real"
"O mundo sabe que a sordidez não é sua"
Certo, não o mundo. Mas, ao menos, parte dele.

E danço; só e feliz.
A música é música em meus ouvidos.
Eu me perdoo

e me abraço.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Da falta

De todas as coisas que não fiz com você,
Mais me faltam aquelas cuja promessa solenemente leviana
Me encheu a boca em doce,

Me encheu o peito em vazio,
Me encheu o estômago em côdeas de esperança.
Sinto-as se digerindo em ácido
A cada cartaz que vejo do que não fomos.

E te busco. Mais em suspiros que sonhos.
E te busco, com meus dedos no quarto escuro.

Ver-te é tortura balsâmica.
Se desaparecesses, o ácido inundaria minhas roupas.
Então ainda sento no cais
E molho meus pés no sal

Vendo ao longe sua flotilha.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Chá para dois

Afastam-se os elefantes da manada
Para, em resignada nobreza, morrerem.

Menos os brancos.
Estes seguem pairando entre os comensais
Em sua saudosa inexistência.

Tomo chá com a morte vestida de saudade
Bebemos vida e festa.
A morte é viva, pois os mortos já não morrem mais.

Bebemos vida e festa
E dançarinos nadam no chá.

A morte é viva
E os elefantes brancos moram no açucareiro.