Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

terça-feira, 22 de junho de 2010

Cristalização

Por acaso tens ideia do tamanho do buraco
Que se abriu quando a latência do gelo desfez-se?

Passou o inverno tropical (ou era o verão nórdico, no fim?)
E a parede tornou-se espessa e sólida.

Estou presa dentro do lago gélido.
Os ventos cessaram...

Acabou a primavera
E meu hálito morno inexiste,

Pois me afogo em golfadas de água semicongelada.
A água possui farpas que se fixam em meus órgãos.

Chamo-as de Fobos e Deimos.
Terias mentido em algum momento?

Terias sido leviano?
Por que retiraste minha máscara?

Por que tocaste em mim?

Há manchas de meus crimes por todo o meu corpo
E nem toda a água do mundo as fará desaparecer.

(Des)Equilíbrio II

Nossos números privados suplantam os antigos bailes.
Nem me olhas diante dos outros cortesãos
E as Condessas principiam a acreditar que nunca valsamos.

Miro-te com intensidade e nos irritamos.
Dizes que não queres jogos,
Então por que me escondes?

Amo-te, amo-te e queria que minhas cobranças
Fossem menos severas. Mas sigo sendo uma bruxa
E bruxas são cruéis.

Me arrastas sempre à floresta
E tuas garras violam meus segredos,
Mas mal me diriges a palavra.

Em momentos assim, restam os antigos fantasmas...

(Des)Equilíbrio

A tua simples existência trouxe novo frescor às minhas horas.
E te espero e te adoro em tempo integral.

Nossas despedidas esmagam meu peito
E fico vendo-te sumir com vontade de sumir também.

Não sou princesa, não sou mártir, não sou metáfora.
Não sei bem se sou algo ou se faço diferença.

E não me importam mais essas questões.
Não me importa mais quase nada que não te diga respeito.

Eu pedi, pedi tanto por tudo isso e agora
Mal posso crer em sua veracidade.

Nosso número não é possível,
Nem mesmo sei dançar!

Possível ou não, te agarro com força,
Me segurando também. Não vamos cair.