Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

zão fachisco

Eu demorei para entender que você não era o meu duplo.
Mas um pedaço de mim, não há quem me convença de que não.
É para você quem corro quando faço merda,

É a sua palavra que eu busco na tristeza
E são nossas risadas as mais completas.
Somos mais do que amigos: crescemos cúmplices.

Crescemos e você virou um super-cara,
O super-amigo das suas histórias, lembra?
Meu colo ainda e sempre estará disponível

E nossas rixas fazem parte,
Assim como as histórias de traquinagens no passado
E de companheirismo no presente.

A cada ano que passa você é mais meu companheiro.
Antes cúmplice de travessuras,
Hoje cúmplice de sonhos.

A cada ano que passa você é mais você,
Mais próprio e senhor do seu nariz.
De quem eu tenho muito orgulho de olhar no olho

E caminhar de mãos dadas.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Primavera

O exercício de calar e temer deixa um gosto acre
Como flores mortas enfiadas boca adentro.
É a covardia que nos mata pouco a pouco.

Quando nem irmãos nem amigos se levantam e nos defendem,
Quando nossos pais e nossa polícia nos batem para que sentemos,
As flores mortas se putrefazem, espalhando chorume em nosso sangue.

Temos medo de que o mal respingue em nós
Temos medo de que nem quisessem nossa bravata, para começo de conversa.
Temos medo e calamos. Tememos.

Nessas horas em que nós fechamos o ciclo,
Em que aprendemos o nosso lugar e engolimos o bolo da garganta,
Alguém está sendo morta, pouco a pouco. Aprendendo seu lugar.

Podemos vomitar o medo, ver a morte nos olhos.
A morte é inevitável, a covardia não.

Arrancar o buquê podre do peito é o primeiro passo
Para a tão sonhada primavera.
Que só se faz de sementes

De flores vivas e valentia.

domingo, 10 de novembro de 2013

querer

Sonhei que esperava um filho nosso.
Ele crescia e se mexia dentro de mim,
Feito de luz.

Esse filho não era uma criança propriamente dita.
Não seria um bebê em meus braços
De quem veríamos crescer os dentes de leite.

Sonhei que gerava um futuro nosso,
De luz.
Ele era calmo, morno

E não te dava medo.
É preciso haver presente para haver futuro
E eu queria que você quisesse ter coragem

E que a luz não escorresse, no sonho,
Pelas minhas pernas.

Um futuro abortado de medo.