Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

IV

Mesmo ateia sempre dirigi perguntas ao céu.
Algumas meninas destroçavam flores
(bem em quer, mal me quer),
Eu, que lia poemas, fui convencida
A despetalar estrelas.

São azuis, brancas e vermelhas
No céu cheio de luzes da cidade.
São cúmplices perfeitas por serem inanimadas.

Meu amor, sinto sua falta
Em suas longas navegações.
Não sou marinheira, andarilha,
E sinto sua falta em meus caminhos.

Gosto do seu ser, livre e intenso.
Tenho também minhas formas de liberdade,
Meus silêncios e labirintos

Onde ecoam muitas vozes e seus sorrisos.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Ano luz

Os cometas descrevem longas órbitas pelas galáxias.
Errantes, gelados, deixam para trás um rastro de luz
E saudade.

Como se pode amar as estrelas?

Ficar velho esperando seu retorno?
Amando algo que já morreu e ainda brilha?
As estrelas são gás, os cometas são pedra

E a saudade sentida é física.
O mundo fere em ausência,
Seguindo a dança das estações.

Contar estrelas cadentes e esperar o rastro longo.
Como amar as estrelas?
Que brilham ao longe, mortas e frias.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

frio

Gostaria que o sol de primavera
Me seguisse com um facho
Invadindo os buracos de treliça que fez a saudade

Como dança no pátio ao longo da tarde.
Mas há trepadeiras de hera
Que me cobrem, úmida,

De olhos curiosos e raios de sol.
Sinto frio ao longo do dia,
Como o Cel. Aureliano Buendía também sentiu

Ao cansar-se da guerra.
Canso-me jovem de viver em guerra
E em civilidade. É a dupla identidade que fastia

E quero dormir o dia todo,
Enrolada em mantas,
Já que não me aquece o sol.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O café solúvel misturado no leite sem lactose
É para acordar do cochilo de saudade
Onde passeei em uma rua de pedras claras, árvores altas

E mãos dadas.