Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

terça-feira, 28 de agosto de 2012

O oásis

Não há água nos céus de Brasília.
E, sob nós, repousa em silêncio
Imenso lençol freático.

Não há água nos céus de Brasília.
De longe viemos a essa terra,
Encharcados de sonhos, esperando os ventos úmidos de mudança.

É seca a terra de Brasília
E sonhamos com trovões e chuva.
Rezamos a cada nuvem que nos deixe o princípio da revolução.

Escarvamos essa terra de mãos nuas.
Escarvamos ouvindo o lago sob nós,
Esperando abrir uma fonte, uma brecha.

Mas a água que molha o chão
Escorre das frontes dos tolos.
(São gotas de sangue de sonho)

É seca a terra de Brasília
E a escarvamos com as mãos em carne-viva.
Somos tolos, estamos certos:
Choverá.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Mar aberto

Vim do continente verde
Por essa rota estranha atrás de guerras e do rei.
Os ventos, que sempre me contaram segredos,
Pararam de soprar.

A calmaria me sufoca.
A quietude me sufoca.
Durmo o máximo possível,
Sonhando com borboletas gigantes e cantos antigos.
Terra russa
Gruda em mim
Devora minhas roupas
Antes de meus olhos.

Embora eu use a imagem,
Serão as chamas que devorarão meu cadáver.
Esse meu gosto não darei ao barro.

Então ele me toma em vida.

23/8/12

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Idílio tropical ou Sobre afetos que libertam

Afastei-me a passos largos do Saara.
Minhas solas ainda reclamam, queimadas pela areia.
Queimei-me toda em mais um sonho
(Tão quente, tão contraditório).

Andei menos do que o esperado
E, surpresa, percebo que cheguei às Índias.
Ou sonho com minha amada Terra Papagalli?

Essa mata tão verde, tão úmida,
Apaga aos poucos a dor das queimaduras de segundo grau.
Sinto falta dos tambores e da gente feroz do deserto.

Essa gente tão livre, tão sem vergonhas,
Liberta-me com seus sorrisos francos
E suas danças. Parece-me que nunca ouvi
Ou dancei nada parecido.

E, talvez por isso mesmo, me seja tão fácil.
E, talvez por isso mesmo, seus perfumes
Façam brotar de mim sons que desconhecia.

Há sonhos belos dentro desse sonho tropical.
Há sementes germinando e sol.
Estou viva.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Para Gabriela II

"Você é tão rosinha e tão pequena.
Sua calma em meus braços me faz pensar
Que já me conhece desde sempre.

Eu não devia esperar tanto de você, não é justo,
(Você vai aprender logo que sua tia é tão boba!)
Mas eu queria te conhecer para sempre.

Sempre, Gabriela, é uma palavra tão grande
E você ainda é tão pequena..."


Fiz esse poema no mesmo dia em que vi minha sobrinha pela primeira vez. Compartilho-o hoje sem nenhum motivo especial além de tê-lo encontrado nos meus papeis. E por acreditar que o amor sempre deve ser compartilhado.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Solar

Em outra era, eu sofreria pelo que quis e não foi.
Veria os dias como reflexos de mim,
Me perderia nas tramas que,
Dedaleira, armo em BDSM de mim para mim
Em um gozo estranho e solitário.

Abandono aos poucos o sado-masoquismo emocional
Aprendo com meus amigos que meus pequenos sofrimentos não são só meus
E eles parecem menores.

Quero inflar o que há de bom.
Amar o sol, rir alto e abraçar alguém.
Sinto muito fantasmas, mas cansei de nossos jogos
Cansei dessa solidão azeda.

Sou feliz. Não em um Jogo do Contente de Pollyanas e Cinderelas,
Mas em uma réstia de sol na varanda que faz explodir as cores da buganvília.