Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

segunda-feira, 28 de março de 2011

Cecília

"O berço vai e vem, iluminado pela réstia avermelhada de sol evanescente. Mesmo sentada ao pé da janela, seus raios não cumprem mais a eficiência de nos aquecer.
Abraço-te, Cecília, e espero que meu sol interior anime o teu. Canto-te as mesmas cantigas que minha mãe e suas mães ascendentes cantaram antes.
E me dói aquela angústia intra-uterina, pois sei que logo irei acordar e tudo já terá se desfeito novamente."

2009


Andei sonhando de novo com essa minha filha que nunca nasceu. Sempre que acordo desses sonhos me pergunto: como posso sentir saudades de alguém que não existe?

quinta-feira, 24 de março de 2011

Resmungo

Eu queria que a minha vida fosse tão simples como as músicas do Jack Johnson, honestamente.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Poema tátil

De alguma forma,
A maciez das minhas pernas chegou ao meu coração

sábado, 19 de março de 2011

Poema desprezível

Chamo de carência esta harpia triste que me aparece em tempos
E enfia suas garras sujas em meu seio, deixando cicatrizes e pus.

Por que não gosto de ficar sozinha, em silêncio?
Por que a inércia pensante me tortura, ultimamente?

Canalizo minhas angústias para uma busca por paixão
E, apesar de ter consciência do que faço, faço-o como uma criança.

Boba, meio ingênua e que não conta com as consequências de seus atos.

A sensualidade inerente à minha condição de mulher
É também uma maldição, pois fui criada para sonhar.

Logo, este papel de succubus que aceitei representar
Me torna internamente miserável e, a meus olhos, desprezível.

Tão desprezível quanto toda a dramaticidade latina
Que imprimo em meus atos.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Solo

Eu não ando animalesca esses dias.
Não quero apenas saciar a minha sede
E cravar minhas unhas nas costas de qualquer um.

Não quero apenas a carne rija,
Quero ombros que suportem minhas lágrimas,
Mãos que afaguem meus cabelos.

Quero sorrir e dançar para entreter com exclusividade.
Quero um par.

Eu não quero outro número privado.
Se o quisesse, poderia me conter com o original.

Não sou mais a boneca-menina. (nem sou mais uma menina)
Não é que espere um príncipe, muito menos encantado.

Tenho ombros para suportar lágrimas
E mãos para afagar cabelos alheios.

Tudo o que eu não quero nesse momento
É juntar dois conjuntos vazios.

Quero estar plena,
Quero estar feliz.