Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Há dias em que você se mexe na cama
E me aperta com força pela cintura,
Como se me pedisse para não ir mais embora.

E há dias em que você passa de mansinho
Sem dizer "oi" ou "tudo bem?",
Como se me pedisse para parar de aparecer.

E há semanas e semanas
Em que você some.
Vai para outros lados, longe do meu.


terça-feira, 30 de julho de 2013

da noite passada

Eu não sei exatamente o que foi embora,
Mas resta em meu peito um canto vazio.
Ando pelo mato orvalhado, ainda está escuro

E, com as mãos nuas, colho estrelas
Para que o sol não as queime.
Guardo-as no peito esburacado,

Já que há uma mágica que faz com que
Seja ele sem fundo. No meu peito cabem
Todas as estrelas do mundo,

Caberia (cabe? caberá?) todo o amor também
Mas aqui falo de estrelas e orvalho.
Ainda está escuro no mato

E eu sei que isso é um sonho,
Colho estrelas e algo me diz que elas são feitas de gás
Então sou mulher luz-balão.

As luzes me elevam e ainda há lama em meus pés.
Estrelas são feitas de gás
Hilariante?

Porque tenho vontade de rir.
Ou seria o vento noturno que faz dançar meu cabelo
E os vagalumes?

segunda-feira, 29 de julho de 2013

se fosse amor

A verdade é que sou uma mulher indesculpavelmente comum
Marinada em feminismo e aspirações de revolução.

A verdade é que não me sinto nem um pouco no direito
De sentir os ciúmes que sinto. Porque (é verdade, eu sei)

Também eu me enlaço com outras pessoas
E escapo entre suas mãos.

Mas o meu peito diz que com ela é diferente.
Ela é diferente ou você é diferente?

Você me quer por perto em algum grau,
Mas não perto demais, isso eu já aprendi

Só que dá um nó, uma coisa, um medo,
Quando penso que você quer outra, outras,

Qualquer uma. É esse o problema da mulher comum,
Ela tem o tempo todo medo de ser qualquer uma

Ou de não ser mais ninguém.
E a feminista aspirante a revolucionária tenta me acalmar

Botar algum juízo nessa cabeça. Aceite as regras
Ou saia do jogo que você também joga, ela diz.

E eu sento e medito.
Acho que seria mais fácil se fosse amor.

Porque hoje eu vou fazer um samba sobre o infinito

As contradições na minha cabeça me acordaram,
E me deram azia, cedo na manhã de segunda.
As minhas e as suas. Nossas não, porque desconheço

O que há de nosso nisso.
Tem também o ciúme, que me queima o estômago,
Que me põe doente. Eu odeio esse ciúme,

Eu odeio o que há de possessivo em mim.
Como não há nada nosso (e eu não esqueço
Que você disse que de mim nada queria),

As minhas coisas flutuam nesse espaço entre nós
(As suas flutuam também? Te torturam também?),
Não ditas. Tenho medo de dizê-las e fazer com que

Você vá embora. Tenho medo de acabar a festa,
O ano-novo, os fogos de artifício.
Mas as festas sempre acabam

Com as badaladas da meia-noite.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Hace días que me duelen los pechos,
Que, pequeños, caberian en sus manos
Si quisieras acariciarme.

El sueño que tuve
No hizo moverse el reloj

Mi pecho duele de luto.
Lo extraño.
Y también a ti.

terça-feira, 23 de julho de 2013

tem dias em que eu só queria
deitar na cama
olhar
o céu cinza
sentir o cheiro do seu pescoço
e você deslizando dentro de mim

tem dias em que, se pudesse,
eu deixaria passar com chocolate
e nudez

há sentimentos estranhos
que nos dão repulsa por tudo e desejo completo
ao mesmo tempo

eu não faço ideia do que você quer de mim

segunda-feira, 15 de julho de 2013

E a viagem nos mostra:

Quanto menos tentamos entendê-la,
Mais tempo ela é capaz de durar.

(e mais longe te leva...)

domingo, 14 de julho de 2013

é inverno
vento morno e sol amarelo

a tijuca se tinge de domingo
e o catavento roda

inverno no rio nunca é muito gelado
exceto quando o peito diz que sim

vento morno, sol amarelo
o catavento roda com preguiça

e o azul do céu não me dá respostas

sábado, 13 de julho de 2013

Sal grosso, para Bia

Mar aberto, joia azul

Manto mãe manto
De seus seios vêm os filhos
Contas brancas, joia azul

Colo quente, colo seu.
Contas brancas, colo.

Mar aberto bate,

Canta, azul, verde,
Espuma branca, seio, coral.

Mar aberto, casa.

pequeninos

Quando cai a noite e os prédio tudo se alumia,
O Centro não deixa de ser o Centro
E eu não deixo de ser Maria.

.

Vermelho, o vestido.
Amarela, a luz.
Vermelho, o cachecol.
Negro, o concreto.
Vermelhos, os lábios que ocultam dentes
e os que são desejo.

.

Passa o povo pelo Centro
E os tapumes colocados
São pra proteger a propriedade
Dos pobres irados.

.

O Centro fede de dia e de noite
E suas poças agridem meu nariz
Agridem também os sapatos distraídos
De quem quer que passe
Quer que passe
Que passe

Coração vagabundo

Você solta fogos de artifício
Até que acaba o ano novo.

terça-feira, 9 de julho de 2013

A tempestade

De repente, o mar fez-se retumbante
E de um tudo trespassou a corrente doce
Que era a fada de asas de albatroz.

E ela, que há pouco virara peixe
E cria ter deixado para trás o marinheiro,
Deu-se conta de que habitavam o mesmo mar.

E seu coração fez-se sombra.
Ainda o amava.
Debateu-se no tsunami para achar a frágil embarcação.

Usou todos os seus poderes para não ser ilha novamente
Pois imóvel em terra fértil jamais tocaria a canoa
Achou-o. Lutava contra ondas e ventos,

Salvaguardando-se de emborcar.
Ainda o amava.
Queria ser uma fada mais importante,

Daquelas que, com um sinsalabim, desfazem a tempestade
E protegem o ser querido.
Mas não o era. E a tempestade também era sua.

Contentou-se em ficar e lutar ao seu lado,
Protegendo como podia a canoa.
O que quer que isso quisesse dizer.