Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sobre a Conquista da Natureza e Sobre a Vida

Sobre a Conquista da Natureza

Assassinamos nosso passado animal e, em choque, tentamos apagar as pistas e as memórias de nosso crime. Depois, enfeitiçados com a beleza do cadáver, nos pusemos a dissecá-lo nos perguntando quem seria capaz de fazer algo assim.
Horrorizados, alguns percebemos, “fomos nós! fomos nós!”, mas era tarde, todos já mastigavam o banquete feito do corpo de nossos pais.

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Sobre a Vida


Será que aquele que come o doce chorando não o despreza tanto quanto o que o põe numa redoma e o deixa estragar?
Já eu, tento comê-lo de colherzinha, rindo, batendo palmas e lambendo até o fim suas porções.


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Esses dois textos são resultado de uma inspiração que bateu durante a aula de Filosofia. Ambos tem relação (indireta ou não) com discussões que surgiram em sala.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Rebentação

Entardece a quarta-feira e penso que hoje mesmo era segunda.
Os dias passam em mim sem me deixar impressões duradouras.
Vida modorrenta que segue, indiferente às indiferenças e ansiedades.

O que me marca são momentos únicos, preciosos.
Alguns dias de riso, outros de choro.
Mesmo assim, misturam-se todos em minha memória confusa.

Que dia é hoje? Que dia foi ontem?
Na maior parte do tempo, não sei dizer.
Sou como a areia jogada na rebentação da praia,

Indiferente aos barcos e às marés.
Às vezes, olho o céu e me espanto:
“Que estrelas belas! Que sol forte!”

E vêm as ondas e as ondas
E me esqueço, calmamente, do resto.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Poema Outonal

As pedras quentes,
Tão quentes quanto a que arde em meu peito,
Ferem a sola de meus pés

Nus sobre o chão.
Fecho os olhos e me deixo estar,
Tentando prolongar o prazer

Que irradia de meus dedos
Para o centro de meu corpo.

A harpia alçou voo
E deixou cicatrizes de lembrança,
Promessas de retorno.

Braços vazios,
Braços vazios e
Peito que arde chamando por outra primavera.

Mas é outono, feito de brisas,
Contradições, Nostalgia
E ausências.