Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"
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terça-feira, 22 de junho de 2010

Cristalização

Por acaso tens ideia do tamanho do buraco
Que se abriu quando a latência do gelo desfez-se?

Passou o inverno tropical (ou era o verão nórdico, no fim?)
E a parede tornou-se espessa e sólida.

Estou presa dentro do lago gélido.
Os ventos cessaram...

Acabou a primavera
E meu hálito morno inexiste,

Pois me afogo em golfadas de água semicongelada.
A água possui farpas que se fixam em meus órgãos.

Chamo-as de Fobos e Deimos.
Terias mentido em algum momento?

Terias sido leviano?
Por que retiraste minha máscara?

Por que tocaste em mim?

Há manchas de meus crimes por todo o meu corpo
E nem toda a água do mundo as fará desaparecer.

(Des)Equilíbrio II

Nossos números privados suplantam os antigos bailes.
Nem me olhas diante dos outros cortesãos
E as Condessas principiam a acreditar que nunca valsamos.

Miro-te com intensidade e nos irritamos.
Dizes que não queres jogos,
Então por que me escondes?

Amo-te, amo-te e queria que minhas cobranças
Fossem menos severas. Mas sigo sendo uma bruxa
E bruxas são cruéis.

Me arrastas sempre à floresta
E tuas garras violam meus segredos,
Mas mal me diriges a palavra.

Em momentos assim, restam os antigos fantasmas...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Poema Sazonal

Tenho os braços frouxos, pendentes.
Esta flacidez deve-se à tua ausência.

Não paro de sonhar. Não contigo.
Me afogo em um lago gelado
e te vejo. Não te culpo.

Tinhas alertado-me a respeito da finura do gelo.
Do nosso gelo.
Não era de verão nosso affaire,

Era de gelo.
De gelo e minha primavera quebrou tudo.

Eu sou a primavera tropical.
Creio que comecei a derreter-te
e tu és o inverno nórdico. (Não havia como aguentares)

Te sinto agora atrás de uma grossa
parede de gelo em estado de latência.

Não ouso tocá-la.
Não ouso nada.

Senti o frio e agora tenho medo.

Não que eu queira que sejas o verão
(O inverno tropical me bastava)

sábado, 1 de maio de 2010

A torre de mármore

"Quando cheguei atrasada à torre e descobri as tranças que a Princesa deixara para trás ao fugir com Cyrano de Bergerac, desesperei-me.
Arranquei-as da janela e me recolhi ao choro.
Quando inundei os campos e as vilas com meu rancor e deixei o solo infértil, as lágrimas secaram com as plantas.
E então me inclinei à janela e descobri as delícias de observar o mundo de um pedestal. Sem Príncipes, Cyranos, Narcisos ou Abismos.
Apenas as visitas eventuais de Ícaros, dos doces Pássaros da Noite tão sozinhos quanto eu.
Quando percebo que meu coração estúpido começa a ensaiar um Carnaval fora de época, troco o alpiste por chumbinho e fico sozinha novamente.
Melhor assim. Não devo esquecer que sou uma Bruxa e que assusto. Não devo esquecer que sempre haverá Princesas que usam gaiolas em vez de alpiste.
Não devo esquecer que estou em uma torre e, se me inclinar demais, será um longo caminho até o chão."

Esse texto é a origem de todos os textos envolvendo Cortes e Torres, para os que queriam saber.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Asfixia

Voltas para mim
em forma de sonho perverso,
perturbando minha noite com lembranças
de murmúrios do vento e tinta branca.

Sou comprimida por uma tecido quase roxo,
sujo de manchas. Estás ao meu lado
e podes me salvar do sufocamento,
mas percebo que é a utopia das tuas
mãos que me assassina.

Tão cruéis quanto o pano e as mãos,
teus olhos me perguntam
“sentes falta das aulas de dança?”

Sinto. Dançar sozinha não é mais
a mesma coisa desde tuas mãos e
tua máscara. Ainda quero arrancá-la.

Mas não te responderei, pois sei
que sorrirás em escárnio e abandonarás
o leito móvel sobre o qual estamos.

Prefiro ter tua crueldade a
não ter nem mesmo este sadismo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Colar de pérolas

"Fui ao reino de Poseidon
e trouxe à superfície exemplares

de conchas marinhas.
Mesmo mortas e secas,

ainda guardava-as comigo
na esperança de que me dessem pérolas.

O deus zangado castigou meu furto
mandando do além(-mar) pedras salgadas

como lágrimas. Belas e tristes.
Quis jogar fora tal tristeza, mas,

egoísta que sou, furei as lágrimas das mortas,
uma a uma, e com elas decorei meu colo."


Eu não podia recusar um pedido especial, podia?

Bruxos

O corvo, que as Princesas juravam ser um rouxinol, continuou a visitar Morgana todas as noites. A bruxa, assustada com o súbito afeto morno, não teve coragem de trocar o alpiste por chumbinho. Assim, a janela da torre permaneceu aberta.

A cada noite, Morgana enxergava mais e mais o bruxo encantado, oculto sob as penas. E sentia mais frio quando ele alçava voo.
Chegou à conclusão de que bemqueria suas penas negras, bemqueria sua existência.
E ousou descer da torre, se misturar aos aldeões. Não entendia por que as donzelas olhavam com cobiça para o bruxo ao seu lado. Porque, por mais que Morgana estudasse o rosto sério de Merlin, via apenas o seu excorvo.

Mas, quando caía a penumbra, a bruxa voltava para sua fortaleza marmórea. Passava dias trancada e Merlin virava corvo de noite, voava até o poleiro e se queixava. Normalmente, quando Morgana enjoava de seu grasnar, fechava o vidro. Mas nunca, nunca conseguia por chumbinho.

Merlin queria que ela abandonasse a torre e passasse a se abrigar nele, mas Morgana tinha tanto medo...
Tinha medo de se debruçar demais e cair e medo de tornar-se desabrigada quando Merlin se cansasse dela. Ou ela dele.

Porque bruxos são assim, medrosos, Morgana decidia-se: ia até o fundo de seu quarto e corria à janela. Parava no parapeito.
Como saber que ia virar realmente mais um pássaro?

Merlin tinha que entender que ela nunca seria uma princesa.

Ausências

Me dói pensar em minhas falhas e meus vazios. Me dói lembrar de minha finitude.
Minhas ausências são como salas abandonadas de uma mansão em pedaços.
Passo minhas mãos por seus papéis de parede descascados e aspiro seu cheiro de mofo. Então, vem de dentro uma melancolia aguda, uma saudade do que não tive e do que não aconteceu.
Corro a medo, maldizendo suas correntes de ar e ressaltando o pó que cobre tudo.
Evito os cômodos por semanas, preferindo o calor dos jardins, mas de um jeito ou outro, volto a cruzar os corredores destelhados e buscar algo que esqueci naquelas salas.
“Não, não é possível. Não havia tanto pó assim...”

Ah, as ausências...

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

queria ter composto elephant gun. assim como queria ter sido gabriel garcia marques ou clarice lispector. mas eu não sou

terça-feira, 16 de junho de 2009

Ensaio sobre minha angústia

Quando sofro com saudades, vem uma angústia do útero; do ventre.
Dói fundo. Não. Não é dor. A angústia sobe do ventre até a garganta. E meu coração se aperta. E, da garganta fechada, irradia para os olhos secos. Vê como estou chorando? Não? Nem eu.
Esfrego as mãos no rosto e descubro que está seco.
Ninguém vê esse rio escapando do meu coração?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Para Gabriela I

O teu pesinho morno aqueceu meu coração gelado.
Ainda és tão pequena! Tão pequena e depósito de tantas esperanças!
O nome que te deram é o mesmo do Anjo da Anunciação.
Ai, anjinho, minhas asas tão quebradas não protegem nem a mim.
Quem és tu? –Me pergunto. Como podemos ser tão idiotas
e entregar nossos corações às mãos de um estranho?
Gabriela, meus sentimentos infundados transbordam no papel.
Eu queria que transbordassem em lágrimas,
mas essas já secaram há muito tempo.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Gelo

As pessoas não me completam.
Não me derretem.

Me sinto um cubo de gelo,
de longe sou fria, compacta.

Mas é só se aproximar
e verá como eu sou cheia de vazios,

como eu sou frágil,
como posso queimar.

Eu mesma não me preencho,
não me basto.

Sinto falta do que eu não fui.
Sinto falta do que eu não tive.

Sinto falta de um passado que não existiu.

Porque não existem fotos dele.
Porque não existem relatos dele.

É como se o “eu” no qual sempre acreditei
fosse meus vazios.

Acho que, como o tal gelo, sou desagradável.
Em um primeiro momento, refresco,
te dou algum prazer.

Mas então, quando estou derretida, quando estou plena,
começo a queimar ou a ser inútil.

Inútil...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Retalho I

"A angústia sobe em ondas
como um monstro pegajoso
subindo pelo abismo que eu temo
[o meu abismo, a minha alma.

A angústia vem misturada com a náusea
e com as lágrimas secas que fazem força para escorrer.

Mas que angústia é essa, Maria?
A angústia da saudade de algo
que perdi há tanto tempo que nem mais sei o que é.

Que tortura é essa?
Que medo do monstro que já afugentei?

Guio minha criança até o armário
e lhe mostro que as bestas que teme,
uma vez na luz, simplesmente não existem.

A criança choraminga e me assusta:
vejo que a matei, pois sua realidade eram os monstros
e ela, – que tristeza, Maria – ela era eu."

Um poema um pouco mais recente, mas não tão recente assim.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

A canção da primavera

"O Rio de Janeiro é um labirinto
de ruas e morros.
Por onde escorrem e se perdem
sonhos, esperanças partidas
d’uma cidade sem passado.

Minhas esperanças escorrem
pelo rio Carioca.
Meus sonhos evaporaram
com o álcool da cozinha.

Meu amor platônico morreu.
Minhas imagens platônicas morreram.
Meus sonhos platônicos?
[Já fazem tempo.

Em tempos, sonho que,
depois do grande espetáculo,
dizes que me ama.
É patético
(eu sei)
É estranho
(nem nos conhecemos direito)

Te amei por conta da imagem
de bom moço que tinhas diante dos meus olhos.
Te desamei por conta da má vontade
da vida de me dar mais informações
condizentes com a minha imagem.

Digo que não te amo mais,
mas ainda escrevo um poema para ti.

Pensando no próximo verso:
“Espero que seja o último”.

É mentira.
Eu queria dizer “eu te amo”
todos os dias.

Eu queria ouvir
“eu te amo”
todos os dias.

Egocêntrico?
Eu sei.
Penso de forma egocêntrica.

Mas é primavera.
E eu queria ser amada.
Mas é primavera.
E eu queria ouvir
palavras doces.

Mas é primavera
e meus sonhos já secaram.

Minhas lágrimas ainda não."


Poema antigo, do ano passado. Amor platônico é um hábito meu, cheguei a esta conclusão. E isso muda alguma coisa dos meus amores? Nada.


Odeio o blogspot que não deixa as minhas "cavalgadas" direito.

domingo, 8 de junho de 2008

Canção do adeus

"Me beija, amor,
Toma meus lábios
Antes que o veneno faça efeito.

Me beija, amor,
Suga minha alma
Que eu virei o frasco inteiro.

Me beija, amor,
Me faz sua Julieta
Que eu estou desfalecendo.

Me beija, amor,
Cola-se, quente, a mim
Que estou gelada.

Me beija, amor,
E faz deste gesto de despedida
Um último adeus.

Me beija, amor,
Meus olhos molhados
Já não veem mais nada.

Me beija, amor,
Que sua voz não me alcança mais.
Deixe os anjos levarem o recado."

Esse poema não é uma experiência pessoal propriamente dita. Foi baseado em um sentimento de perda que eu captei e criei isso. Finalmente voltando aos poemas que não são pessoais.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Olhos vítreos

"Ninguém me vê
Ninguém me avisou
Não faz assim,
Não vai dar não.

O meu mundo em preto-e-branco,
Misturo as tintas, tento colorir,
Me embaraço na minha visão.

Me faço suspirar, que aflição,
E sair pra sessão,
Só pra fingir.

Vejo os outros brincando,
Eu gostando de ser tua sombra
E me multiplicar.

Nos teus olhos também posso ver
Minha tristeza te vendo passar.

Nessa sala fria,
Não há clarões, não há dias,
Depois de outros dias.

E no meu coração,
Passas em exposição,
Passas sem ver minha vigília
Catando a alegria que jorra pelo chão."

Sou apaixonada por Chico Buarque, estava apaixonada... Bien, é isso.

domingo, 11 de maio de 2008

Mais uma vez te amo

"Meu coração ficou apertado agora.
O dia inteiro te espreitei e tive vontade de chorar.

Tive vontade de chorar quando ela se recostou em teu colo.
Tive vontade de chorar quando tu a abraçaste.

Tive vontade de chorar quanto tentei falar contigo, e tu?
Tu sorriste para mim como se nada tivesse mudado
[e tornaste a olhar para ela.

Oh, escuridão bem amada, por que ignoras minha presença?
Sinto-me como Eco apaixonada por Narciso.

Mas tu não és belo como Narciso.
Tu me lembras Cirano de Bergerac.

Em todos os aspectos.
Inclusive em que tua maior beleza se encontra nas palavras.

Querido, sofro tanto, sofro tanto e tu ignoras.
Tu ignoras todos os meus sentimentos.

Por que as coisas estão postas assim?
Por que fui tão tola e não percebi que teu sorriso era voltado para mim?
[Não para ela, não para ela.

Percebo agora e temo ser tarde demais.
Pois teus sorrisos para mim ficam cada vez mais escassos.
[E te voltas para ela. E te voltas para ela."


"Mais uma vez te amo", eu espero que seja o último poema de amor da minha fase atual, espero que eu pareça estar tão forte quanto pareço para deixar o Rei morrer e algo de novo nascer nas cinzas.

Dia frio, apareceu um sol de mentira no fim da tarde. Vagabundei o dia inteiro.

Quem inventou o dia das mães? Ah é, o capitalismo.
Tratei minha mãe como sempre, a diferença é que fiz o café da manhã para ela.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Ding dong dell, the pussy is in the well

"Para que Zaratustra nascesse,
Nietzsche teve de chorar.

Minhas lágrimas já se foram
E uma dor insistente de cabeça
Foi a única coisa que brotou.

Estou caindo em um abismo
No interior de minha confusa mente.
Estou apavorada,
Chegará ao fundo?

O choque com o chão de esperanças
[empedernidas
Tirará meus sentidos
Para sempre?"


Tem muito a ver com meu momento.
Estou assustada de verdade.
Na verdade, tinha vontade de postar outro poema aqui, mas prometi que o blog (e a vida) não giraria em torno de uma só pessoa.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Soneto da Saudade

"Eu sinto a sua falta.
Sinto medo do escuro.
Sinto falta de quando
você me pegava no colo.
Sinto falta do seu sorriso.

Durante cinco anos,
você vinha à noite e
me mostrava novos mundos.
Sinto falta das suas mãos.

Durante a sua morte,
você viveu em mim.
Me falava do mundo,
do futuro.
Sinto falta dos seus beijos.

Eu não acredito em deus,
não creio em nada.
É duro dizer adeus
e me sinto abandonada.
Sinto falta da sua existência."


Sim, eu sei, não é um soneto. Mas o nome é esse, foi feito há um tempo, quando eu não tinha noção do que era um soneto. Esse poema foi feito para uma pessoa que eu amei muito e me deixou tem muito tempo.
Publiquei-o aqui porque estou cansada do meu blog (e a minha vida) girar em torno de alguém que definitivamente não me corresponde.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Caixinha de Música

O barulho dos tanques aumentava à medida que se aproximavam.
-Eu tô com tanto medo... -Sussurrou seu pequeno irmãozinho, grudando ainda mais o corpo no dela.
Engoliu o medo e deu um sorriso para fortalecê-lo. Havia prometido à sua mãe que iria cuidar do pequeno.
-Não precisa. Está ouvindo esse barulho? -Disse, afagando sua cabeça.
Ele fez que sim com a cabeça.
-São as portas do céu se abrindo... -Começou.
Olhou para o céu cinzento, sabia que era mentira. Sabia também que seria a sua última mentira.
O pequenino se afastou um pouco, indignado.
-Não é não. São os tanques maus vindo pegar a gente. -Reclamou.
Ela o apertou contra si, com medo.
-Sim. Mas há um outro barulho. Aquela música que a mamãe sempre canta... -E, como mágica, a música começou a soar.
O menino, maravilhado, sorriu.
-A mamãe está de braços abertos naquele vestido azul de dia de festa. E o papai está com aquela farda bonita...
A música suave embalava a criança.
-Atrás deles, estão tantos e tantos anjos...
-Mas não são os anjos que cantam no céu? -Perguntou meio sonolento.
Ela fechou os olhos e deixou pequenas lágrimas rolarem pelo rosto.
-São, mas...você nunca percebeu? –Perguntou, fingindo surpresa.
-O quê? -A curiosidade tentava vencer o cansaço de dias acordado.
-A mamãe sempre foi um anjo. -Sussurrou na pequena orelha pálida do irmão aquele segredo, tão secreto, que era quase pecado ser dito em voz alta.
-Eu sempre soube... -Foram as últimas palavras dele antes de dormir.



Dias depois, participantes da Cruz Vermelha vasculhavam os destroços de um abrigo.
Descobriram os corpos de duas crianças. Abraçadas, dormiam sorrindo o sono eterno da morte.

Ao fundo havia uma música insistente. Descobriram, apertada na mão da menina, uma pequena caixinha de música.



Eu gosto um bocado desse conto, é fofinho. Antigo...
Hoje foi um dia traquilo, sem nada demais.
Fui na médica, comecei a escrever o roteiro para uma peça... Nada demais.
Ah sim, tem o poema novo. Mas esse eu só vou publicar depois da peça ser encenada!