Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

domingo, 31 de agosto de 2014

Vi uma história hoje que não era como a nossa. Mas, quando o aeroplano sobrevoou as planícies africanas carregando a mulher impetuosa e estável e o andarilho, não pude deixar de pensar nas histórias que você criou para nós e chorar mais uma vez em silêncio.
Não é que eu ainda o ame do mesmo jeito. A dor que sinto é como o espinho de saudade de um morto. ou da nostalgia por um sonho com alguém que jamais nasceu. Penso nas cores amarelas junto ao canal que fica naquele ponto entre a Lagoa e o Jardim Botânico e no jeito como você inventava bobagens sobre viajar o Brasil comigo, me fazendo relevar o fato de que mais uma vez eu fiquei te esperando por mais de duas horas. Sentada sozinha nas britas em frente ao museu, ouvindo música e mergulhada em autopiedade. Por que te esperei? Por aquelas duas horas e por quase dois anos?
A mulher civilizada, contida como você sempre me acusou de ser, confrontou o andarilho no filme. A liberdade dele consistia em eliminar todas as formas de liberdade dela. De querê-lo, de precisar tê-lo por perto, de ter medo,ciúme e sentir-se só.
Minhas amigas dizem que eu acho que você me amou bem menos do que de fato amou. Mas, se você diz que nunca soube praticar o meu amar calmo e que nunca foi capaz de me amar intensamente, só consigo concluir que você jamais me amou de ato. Eu acho que peguei suas tolices sobre o futuro imaginário para nós e transformei em um presente imaginário.
Ela o esperava ir e voltar sozinha na fazenda e, quando finalmente se percebeu exausta de acompanhar seu ritmo e impôs uma condição própria para a relação deles, ele foi embora. Você também.

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