Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

segunda-feira, 3 de março de 2014

dia dos mortos

O seu rosto no caixão aberto volta na minha retina.
Meu pai colocou novas pilhas no relógio preto.
Sem magia, sem retorno. Apenas tic-tac.

Lembro também das nossas tardes no sofá
E das suas pequenas manias irritantes.
Hoje foi um dia dos mortos, de chuva fina em pleno carnaval
E eu não quis me vestir. Portanto, fiquei em casa.

Passei a tarde vendo filmes para não ver as lembranças.
É incrível como elas conseguem aparecer tão coloridas!
Tem dias em que quero fugir da Tijuca.

Como é possível impedir as imagens em technicolor de aparecerem nos meus olhos
Se moro a uma quadra da pracinha, onde vovó ainda pula amarelinha?

Ela me machucou mais, sabe?
Sempre considerei uma ofensa ter esquecido tudo.
Eu odiava quando ela me chamava pelo nome de fantasmas
E nem sabia mais contar histórias.

Você ao menos foi você até o final.
Acho que é por isso que não escrevo sobre ela:
De raiva de manter vivas as lembranças de alguém que as jogou fora.

Mas hoje choveu miúdo e teve bloco na rua.
Preferi estar em casa, sozinha.
Hoje a alegria não é para mim.

Nenhum comentário: