Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Há dentro de mim um quarto escuro cuja porta é pesada como um cofre.
Uso-o para lacrar o que dói e sangra. Uso-o para esconder o que me dá medo.
E me obrigo a aceitar as coisas que me dão medo como parte de mim, porque eu "vivo apesar de" (vivo mesmo) e até a falar delas com as pessoas, como se não importasse. Como se nada importasse.

O problema começa quando eu descubro que algo particularmente pavoroso existe fora de mim. Que pessoas falarão do assunto comigo sem saber o quanto as paredes  do meu quarto balançam, o quanto sua porta é socada... Porque eu mantenho meu quarto trancado. Escuro. Escondido atrás de um quadro de sorriso e outro de altivez.

Houve um terremoto dentro de mim que deixou a porta de meu quarto do pânico empenada. E além de chutar e esmurrar, os meus monstros esgueiram suas garras centímetros para fora dela, arranhando o que encontram no caminho.
Apertam meu pulmão e minha garganta. Apertam meu estômago. Apertam meu coração com força.

E os quadros continuam no lugar. Com sorriso e altivez.

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