Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Eu costumava me espantar na infância quando, de súbito, era chocada com a consciência: respiro. E, se as cores da terra sempre me pareceram óbvias e necessárias, belas sempre, as formas sujas do concreto me violentam ainda hoje. Violentam porque, em tudo, vejo (assim como o operário construído)  marca da mão de vários operários que levantaram a construção.
"Foi gente que fez isso" me surpreendo. Gente de sangue, de carne e sem mistérios. Gente que não é necessária. "As formiguinhas seguem marchando" dizia minha mãe frente às tragédias humanas, como se lembrando a ela e a mim de nossa pequenez. A terra é óbvia, necessária, a terra expande minhas costelas em afeto. A gente existe, sem explicação.
Conforme cresço, os choques de realidade se tornam mais esparçados e violentos. Então, de súbito na rua, percebo: existo.

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