Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Primavera

O exercício de calar e temer deixa um gosto acre
Como flores mortas enfiadas boca adentro.
É a covardia que nos mata pouco a pouco.

Quando nem irmãos nem amigos se levantam e nos defendem,
Quando nossos pais e nossa polícia nos batem para que sentemos,
As flores mortas se putrefazem, espalhando chorume em nosso sangue.

Temos medo de que o mal respingue em nós
Temos medo de que nem quisessem nossa bravata, para começo de conversa.
Temos medo e calamos. Tememos.

Nessas horas em que nós fechamos o ciclo,
Em que aprendemos o nosso lugar e engolimos o bolo da garganta,
Alguém está sendo morta, pouco a pouco. Aprendendo seu lugar.

Podemos vomitar o medo, ver a morte nos olhos.
A morte é inevitável, a covardia não.

Arrancar o buquê podre do peito é o primeiro passo
Para a tão sonhada primavera.
Que só se faz de sementes

De flores vivas e valentia.

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