Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

domingo, 1 de abril de 2012

Não é uma piada de 1º de abril

Um vazio imenso me consome por vezes e suga todas as minhas forças de andar cem passos até o mar. Continuo quieta na biblioteca abafada tentando compreender o que me faz falta e, do que compreendo, porque recuso quando me oferecem. Devo comer qualquer coisa só por ter desejo de chocolates ou continuo faminta, escolhendo entre as caixas que não me parecem apetitosas (ansiando por caixas que não estão ao meu alcance)?
Quando escolho a fome, torno-me progressivamente apática e sem forças. Quando dou chances a um doce que não me abre o apetite, fico enjoada. O problema de usar doces como metáfora para relações é que doces não têm sentimentos. Doces não criam expectativas. Não temos responsabilidades sobre os doces que pensamos querer comer e mudamos de ideia depois. Pessoas sim.
E sigo irrealizada, sonhando com uma plenitude que eu quero que seja repleta de eletricidade. Mas eletricidade e afinidade dançam longe dos meus dedos ou se apresentam apenas separadas. Normalmente, a eletricidade se apresenta junto de entorpecentes como um momento do ciclo hormonal ou uma boa dose de álcool. E vai embora na manhã seguinte. Restando o nada de nada que rege os outros momentos.
Discorrer sobre isso e saber que vivo as consequências de uma escolha consciente não altera os ônus e nem os bônus da minha escolha, apenas a torna mais tolerável.
Sigo a vida sem frescuras, olhando para os lados, dançando e rindo sem desespero. Acompanhada de amigos e amantes ocasionais. Lembro a primavera passada já sem dor, apenas como um acalanto de que, se pude vivê-la em sua plenitude, posso viver outras coisas numa próxima vez.
Talvez eu devesse recorrer ao antídoto do vazio e comer chocolates reais. Ou ir ao cinema.

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