Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

sábado, 26 de novembro de 2011

Neblina

A neblina desses dias tão nublados traz memórias nostálgicas e infantis. Memórias da minha testa prensada contra o vidro gelado da velha Paraty, do dedo - que era tão miúdo e que não cresceu tanto assim – desenhando símbolos secretos de magias tão poderosas quanto inexistentes. É curioso que eu tenha apagado tantas lembranças infantis, mas lembre do furo pequeno (que mal cabia meu dedinho) no banco de trás do carro, perto do lugar onde eu sempre sentava. E eu sonhava e me perdia, vendo as ruas passarem, como faço ainda hoje, da janela do ônibus.
A neblina desses dias tão nublados traz memórias de um tempo em que os odores eram uma parte desconhecida do mundo, cujo acesso me era negado, de um tempo em que o mundo conhecido era pequeno e, por isso mesmo, as possibilidades eram imensas. A neblina desses dias tão nublados traz desejos de sublimação da minha existência, nesses dias penso com força em apenas sumir, como se nunca houvesse existido.

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