sexta-feira, 21 de novembro de 2008
A menina-mar
E, naquele corpo-água fugidio,
parecia abrigar-se todo o sal do mundo.
A pele branco-dourada
da mais fina
áspera e suave areia
penetrava-lhe os poros.
Os olhos eram de um
furta-cor indizível.
(Seriam verdes? Não. Azuis.)
E uma tristeza de oceanos possuía-lhe,
tornando-os em matizes de cinza.
Uma tristeza muda,
inexistente. Persistindo nos ouvidos
no mesmo eterno ruído surdo.
Amar-lhe era para si um banho de mar.
Pois era ela mesma a idílica prosopopéia das águas de sal.
Em seu auto-contimento sôfrego,
mergulhar-lhe era dar-se, apenas.
Por vezes, num gesto de benevolência,
sobrava-lhe somente o terno gosto de sal.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Retalhos V
Nos cercamos de coisas mortas porque tememos as vivas.
As vivas um dia morrem.
E aí há o abandono."
Mostrei este poema a meu professor de yoga e ele redigiu uma resposta a este.
Porém, a resposta pertence a ele e não me sinto no direito de publicá-la aqui.
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Retalho I
"A angústia sobe em ondas
como um monstro pegajoso
subindo pelo abismo que eu temo
[o meu abismo, a minha alma.
A angústia vem misturada com a náusea
e com as lágrimas secas que fazem força para escorrer.
Mas que angústia é essa, Maria?
A angústia da saudade de algo
que perdi há tanto tempo que nem mais sei o que é.
Que tortura é essa?
Que medo do monstro que já afugentei?
Guio minha criança até o armário
e lhe mostro que as bestas que teme,
uma vez na luz, simplesmente não existem.
A criança choraminga e me assusta:
vejo que a matei, pois sua realidade eram os monstros
e ela, – que tristeza, Maria – ela era eu."
Um poema um pouco mais recente, mas não tão recente assim.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
A canção da primavera
de ruas e morros.
Por onde escorrem e se perdem
sonhos, esperanças partidas
d’uma cidade sem passado.
Minhas esperanças escorrem
pelo rio Carioca.
Meus sonhos evaporaram
com o álcool da cozinha.
Meu amor platônico morreu.
Minhas imagens platônicas morreram.
Meus sonhos platônicos?
[Já fazem tempo.
Em tempos, sonho que,
depois do grande espetáculo,
dizes que me ama.
É patético
(eu sei)
É estranho
(nem nos conhecemos direito)
Te amei por conta da imagem
de bom moço que tinhas diante dos meus olhos.
Te desamei por conta da má vontade
da vida de me dar mais informações
condizentes com a minha imagem.
Digo que não te amo mais,
mas ainda escrevo um poema para ti.
Pensando no próximo verso:
“Espero que seja o último”.
É mentira.
Eu queria dizer “eu te amo”
todos os dias.
Eu queria ouvir
“eu te amo”
todos os dias.
Egocêntrico?
Eu sei.
Penso de forma egocêntrica.
Mas é primavera.
E eu queria ser amada.
Mas é primavera.
E eu queria ouvir
palavras doces.
Mas é primavera
e meus sonhos já secaram.
Minhas lágrimas ainda não."
Poema antigo, do ano passado. Amor platônico é um hábito meu, cheguei a esta conclusão. E isso muda alguma coisa dos meus amores? Nada.
Odeio o blogspot que não deixa as minhas "cavalgadas" direito.
domingo, 8 de junho de 2008
Canção do adeus
Toma meus lábios
Antes que o veneno faça efeito.
Me beija, amor,
Suga minha alma
Que eu virei o frasco inteiro.
Me beija, amor,
Me faz sua Julieta
Que eu estou desfalecendo.
Me beija, amor,
Cola-se, quente, a mim
Que estou gelada.
Me beija, amor,
E faz deste gesto de despedida
Um último adeus.
Me beija, amor,
Meus olhos molhados
Já não veem mais nada.
Me beija, amor,
Que sua voz não me alcança mais.
Deixe os anjos levarem o recado."
Esse poema não é uma experiência pessoal propriamente dita. Foi baseado em um sentimento de perda que eu captei e criei isso. Finalmente voltando aos poemas que não são pessoais.
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Olhos vítreos
Ninguém me avisou
Não faz assim,
Não vai dar não.
O meu mundo em preto-e-branco,
Misturo as tintas, tento colorir,
Me embaraço na minha visão.
Me faço suspirar, que aflição,
E sair pra sessão,
Só pra fingir.
Vejo os outros brincando,
Eu gostando de ser tua sombra
E me multiplicar.
Nos teus olhos também posso ver
Minha tristeza te vendo passar.
Nessa sala fria,
Não há clarões, não há dias,
Depois de outros dias.
E no meu coração,
Passas em exposição,
Passas sem ver minha vigília
Catando a alegria que jorra pelo chão."
Sou apaixonada por Chico Buarque, estava apaixonada... Bien, é isso.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Apenas um Eco de Narciso
A tola que se apaixonou por Narciso.
Percebo um leve equívoco em minha comparação.
Não és tu Narciso. Sou eu mesma.
Apaixonei-me por uma imagem.
E, efetivamente, tenho de agradecê-lo.
Agradecer tua princesa também, ó glorioso Rei.
Afinal, se não houvessem jogado uma pedra n’água,
Não haveria eu terminado por me afogar?
Talvez a história fosse mais bonita assim, pena.
Diga-me, sua Majestade Cirano de Bergerac,
Como é brincar tão magnanimamente com o coração de alguém?
Foi outrora minha dor tão peculiar
Que tu, o cientista, não pudeste deixar incompleto o experimento?
Diga-me, el Rei,
Como é partir o coração de uma reles plebéia?
Há tempos, comparei-me a uma tela,
[um brinquedo teu.
Ledo engano! Não me elevo a tão alto posto!
Brinquedo é a delicada princesa,
Que estimas e tens medo de quebrar.
Que fui eu?
Que sou eu?
Ah, mentiroso vil!
Ah, tola nobre falida!
Ainda não aprendeste que ele gosta de te ferir?
Ainda não aprendeste que ele não gosta de te ferir?
[Ele não sente nada por ti, tola."
Boas notícias: o amor idílico vem se transformando em mágoa e raiva. Graças aos céus.
Há horas falando com minha Seh. Tantas saudades dela... Oh céus, quando vamos nos ver?
domingo, 11 de maio de 2008
Mais uma vez te amo
O dia inteiro te espreitei e tive vontade de chorar.
Tive vontade de chorar quando ela se recostou em teu colo.
Tive vontade de chorar quando tu a abraçaste.
Tive vontade de chorar quanto tentei falar contigo, e tu?
Tu sorriste para mim como se nada tivesse mudado
[e tornaste a olhar para ela.
Oh, escuridão bem amada, por que ignoras minha presença?
Sinto-me como Eco apaixonada por Narciso.
Mas tu não és belo como Narciso.
Tu me lembras Cirano de Bergerac.
Em todos os aspectos.
Inclusive em que tua maior beleza se encontra nas palavras.
Querido, sofro tanto, sofro tanto e tu ignoras.
Tu ignoras todos os meus sentimentos.
Por que as coisas estão postas assim?
Por que fui tão tola e não percebi que teu sorriso era voltado para mim?
[Não para ela, não para ela.
Percebo agora e temo ser tarde demais.
Pois teus sorrisos para mim ficam cada vez mais escassos.
[E te voltas para ela. E te voltas para ela."
"Mais uma vez te amo", eu espero que seja o último poema de amor da minha fase atual, espero que eu pareça estar tão forte quanto pareço para deixar o Rei morrer e algo de novo nascer nas cinzas.
Dia frio, apareceu um sol de mentira no fim da tarde. Vagabundei o dia inteiro.
Quem inventou o dia das mães? Ah é, o capitalismo.
Tratei minha mãe como sempre, a diferença é que fiz o café da manhã para ela.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Ding dong dell, the pussy is in the well
Nietzsche teve de chorar.
Minhas lágrimas já se foram
E uma dor insistente de cabeça
Foi a única coisa que brotou.
Estou caindo em um abismo
No interior de minha confusa mente.
Estou apavorada,
Chegará ao fundo?
O choque com o chão de esperanças
[empedernidas
Tirará meus sentidos
Para sempre?"
Tem muito a ver com meu momento.
Estou assustada de verdade.
Na verdade, tinha vontade de postar outro poema aqui, mas prometi que o blog (e a vida) não giraria em torno de uma só pessoa.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Soneto da Saudade
Sinto medo do escuro.
Sinto falta de quando
você me pegava no colo.
Sinto falta do seu sorriso.
Durante cinco anos,
você vinha à noite e
me mostrava novos mundos.
Sinto falta das suas mãos.
Durante a sua morte,
você viveu em mim.
Me falava do mundo,
do futuro.
Sinto falta dos seus beijos.
Eu não acredito em deus,
não creio em nada.
É duro dizer adeus
e me sinto abandonada.
Sinto falta da sua existência."
Sim, eu sei, não é um soneto. Mas o nome é esse, foi feito há um tempo, quando eu não tinha noção do que era um soneto. Esse poema foi feito para uma pessoa que eu amei muito e me deixou tem muito tempo.
Publiquei-o aqui porque estou cansada do meu blog (e a minha vida) girar em torno de alguém que definitivamente não me corresponde.
terça-feira, 29 de abril de 2008
Caixinha de Música
segunda-feira, 28 de abril de 2008
A boneca-menina
com (muito) medo.
“Será que você sabe que eu existo?”
Pensei enquanto acompanhava
(apenas com os olhos)
cada movimento seu.
Em meu sonho,
eu era feita de pano.
E você me salvava.
Na realidade, eu sou feita de carne.
Mas, naqueles minutos, eu virei estátua,
tamanho era o medo que eu sentia.
Você, que murmurava segredos,
virou para mim
e fez-se a luz.
Seu sorriso me transformou
de menina em boneca
de boneca em estátua
de estátua em menina novamente.
Menina trêmula, mas feliz.
Feliz e medrosa.
Poema antiquíssimo feito para um velho amor meu, eis aí a origem do nome do blog.
E eu só quebro a cara. Pooois é. O único que deu certo durou pouquíssimo tempo.
Vai ver as coisas na minha vida são como fogos de artifício. Vem fumaça, fumaça, então vem um imenso clarão de luz que dura uns segundos e mais fumaça novamente.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Fantasma da Ópera, Mitologia Grega e minha vida amorosa
Aquele tempo que se foi
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Confissão Sufocada
e, como em meses, não consigo escrever.
Se meus textos fossem de papel,
estariam acumulados na estante,
empoeirando.
Acho que você me transformou.
Desde que me descobri amando-o,
a realidade ficou fria, cinza e sem graça.
Eu estou como meus textos,
parada, intocada,
empoeirando.
Houve um sorriso maroto de um certo moreno
que ficou marcado a ferro no meu coração.
o seu sorriso doce está tão intrínseco
na minha mente
que eu poderia esculpi-lo com minha carne.
Ouço Legião Urbana e me deprimo.
Uma das minhas maiores amigas só repete:
“você não tem a menor chance com ele,
encare o fato.”
Mas será?
Eu queria tanto que ela estivesse errada.
Mas, de novo, é possível que eu tenha
que dar razão a ela.
Minha carapaça é contraditória com o meu
“verdadeiro eu”.
Sou tão tímida,
e eu só queria conversar com você.
Só queria não ter de escrever esse poema em código,
pois sei que esse será o poema que entregarei a você,
e tenho medo de você deixar de me tratar bem.
Esse poema não tem fim,
apenas o terá,
quando você souber o meu nome.
Me ajuda a escrever um final feliz.
Poema veeeelho. De 2007. Para a Bê ver que todos os poetas também tem seus momentos de dúvidas e hiatus. Pelos mais variados motivos. O meu tinha um sorriso lindo.
domingo, 20 de abril de 2008
A bruxa e o rei
Me encantei por você e tudo ao seu redor,
a purpurina usada no palco me cegou no contraste com a luz.
De novo, me perdi em sonhos ilusórios.
E agora, a vilã de meu conto de fadas foi coroada princesa
[e eu sou a bruxa.
Como vou lançar meus sortilégios sobre você?
Como vou lançar minha magia em seu sorriso?
Será que terei coragem de te arrastar para o abismo comigo?
Será que terei coragem de quebrar o encanto que cerca sua Princesa?
E você?
Será que verá a pequena nobre falida que se apaixonou pelo rei,
Ou apenas verá uma bruxa cruel tentando destruir todo um reino de fantasias?
E você?
Será que me salvará de minha própria torre,
Ou cravará a espada em meu quase morto coração ao enxergar apenas um dragão?
E nós?
Será que meu sortilégio nos fará pairar sobre o abismo,
Ou eu terei matado sua princesa à toa?
E nós?
Será que os outros entenderão meu amor calado e explosivo,
Ou tentarão quebrar nosso sortilégio, crendo ser algo demoníaco?
E eu?
Ao tocar sua imagem, ela se revelará sólida como imaginado,
Ou se esfacelará ante a realidade?
E eu?
Todas as lágrimas convertidas em veneno, finalmente serão vertidas e me purificarão
Ou apenas absorverei mais e mais desse veneno chamado inveja?
E eu?
Quando decidirei queimar esse livro?
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Diálogo
“Isso o quê?”
“Esse seu jeito.”
“Que jeito?”
“De olhar para tudo com a mesma intensidade. A mesma educada curiosidade e surpresa por todas as coisas estarem aqui.”
“E qual é o problema nisso? As coisas não são eternas, imutáveis. Pode ser que daqui a pouco você não esteja aqui. Então, eu me surpreendo por você ainda estar.”
“Eu sempre estarei aqui.”
“Nunca diga ‘sempre’.”
“Não diga ‘nunca’.”
“E por que te incomoda tanto o fato de eu olhar para tudo com a mesma intensidade?”
“Porque eu queria que você olhasse para mim de uma forma especial. Como eu olho para você. E esse seu sorrisinho também me irrita.”
“Acho graça nos seus ciúmes. Eu já olho de uma forma especial.”
“Ah olha, é? Porque eu me sinto como essa flor ou aquela pedra.”
“E quer coisa mais especial do que me surpreender com a vida?”
“Não quero que você se surpreenda comigo. Quero que me ame.”
“Mas eu já amo.”
“Como ama a flor ou a pedra.”
“Como eu amo todas as ínfimas partículas do universo. Como eu amo a mim.”
“Eu quero que me ame de forma especial. Como aquele pássaro ama o outro, como aquele menino ama a menina. Eu quero ser tão especial para você como você é para mim.”
“E esse beijo fez você se sentir especial? Melhor do que a flor e a pedra juntas?”
“Mais do que você pensa.”
“Então, toda vez que você começar a reclamar, eu vou beijar você.”
“Acho que preciso reclamar mais.”
Feito para meu irmão e alguns amigos meus, que reclamam que eu detalho demais as minhas histórias.
segunda-feira, 14 de abril de 2008
Pérola Negra (episódio1)
domingo, 13 de abril de 2008
Coroa fúnebre
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Hey you
me desconstruo
me transformo por você.
E você nem nota.
E o brilho dos seus olhos me perturba
E o seu sorriso sem sentimentos aparentes me perturba.”
Hey you,
Hey you,
segunda-feira, 10 de março de 2008
Sinestesia Anestésica
E eu pensando que os dias eram sonho
E eu desacreditando que você viria
E eu te procurando feito cega
E você na minha frente
[eu ainda não via.
E eu achando que minhas lágrimas nunca secariam
E eu pensando que você era ilusão
E eu desacreditando meu desejo
E eu te procurando em mim mesma
E você dentro de mim
[eu ainda não sentia.
E eu achando que meu grito não sairia
E eu pensando que minha voz não existia
E eu te chamando desamparada
E você me acalentando
[eu ainda não ouvia.
E eu achando que o sentido se perdera
E eu pensando que o Norte era mentira
E eu desacreditando que você estava ali
E eu tentando te achar, perdida
E você me guiando
[eu tinha medo de não ser real.
Fase romântica...
Logo eu acho uns poemas da fase atual (política) e posto.
Lendo Cem Anos de Solidão. Gabriel García Márquez é phodástico.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Futuro?
Minha lista de blogs
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Masturbação na Era VitorianaHá 11 anos
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ManifestoHá 14 anos
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