Eu tremia horrores e acho que você notou. Deve ser porque eu não tenho o Tato.
Depois de dias e semanas caminhando sobre brasas e nadando em geleiras, cheguei ao objetivo: o centro do nada.
Lá, fincada como uma bandeira de posse, estava a imagem de um deus que não é o nosso.
"Quem colocou isso aqui?" E só a simples ideia de alguém chegando antes de nós a um lugar que acreditávamos não existir me encheu de medo.
Creio que foi por isso que meus músculos ficaram tesos e meus pelos se arrepiaram. Olhei para você, esperando ouvir uma palavra de sobriedade.
Seu rosto estava todo molhado. Olhei para a abóbada sobre nós. Nenhum sinal de goteiras. Olhei para o chão a meus pés e vi marcas de pingos ao meu redor. Eu vazava água também.
Olhei de novo para o totem gasto de algum povo dilacerado como nós (se não o eram, o que faziam naquele lugar?) e tive a impressão de algo comprimido em meu tórax, onde deveria ficar meu coração se eu tivesse um.
Vim aqui buscar você, levar de volta para suas feras, para o povo que você deixou para trás.
E me escolheram entre os seus órfãos por eu ser oco e irredutível. Mas essa estátua de um material que eu não conheço me enfeitiçou e agora me sento ao seu lado para olhá-la e vazar até que só reste pó do que eu fui.
Sinto sede e provo de sua água. As gotas têm o sabor do oceano infindo que tive de cruzar para chegar ao nosso destino. Olho para o seu rosto (agora, mais vazio do que o meu) e me pergunto se esse travor vem de seu âmago ou é só mais um feitiço do estranho ídolo.
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