Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

sábado, 16 de janeiro de 2010

Trama

Desde que posso me lembrar, mamãe me alerta
quanto aos homens-aracnídeos. São muito sedutores, ela diz,
porém, é quase impossível escapar de suas teias.

Eles chegam de mansinho e elogiam sua beleza,
(ninguém nunca tinha me elogiado antes,
afinal, eu sou só preta e amarela, como qualquer outra operária)

te convencem a não trabalhar, te apresentam seus amigos cigarras
e, quando finalmente perceber, estará toda grudada em sua teia.
Mesmo que seu novo dono (porque você se tornou apenas uma escrava)

injete veneno em sua corrente sanguínea,
você não terá como escapar. Porque, depois do veneno é melhor ainda.
E você quer, mas não quer (e não sabe como) escapar.

Quer se livrar dele, porque já vê como tudo terminará,
mas teme como serão os dias sozinha.
E ele te deixa voltar para a colmeia,

e você, crédula, acha que isso é amor.
No fundo, ele apenas quer que você perceba que as outras te olham diferente
todos já apontam e sussurram por suas costas

dizendo: "Lá vai a futura refeição da aranha"

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