Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Desertificação

"Desfrutando a sombra de meus galhos,
Meu filho do vento explica-me que fará a viagem ao Nada.
Pede-me que eu permaneça no píer, que minhas folhas sigam verdes.

Como não? Permiti-me lançar raízes neste solo,
Permiti-me amar o sal.
Permaneço, lhe respondo.
Mas, sem que me regues, murcharei.

Amor com a amor se paga.
E me pedes que pendure no fiado.

E me pedes que te sombreie a fronte amada,
Que aguarde.

Aguardo. Murcharei."

Uma amiga me chamou a atenção para que parecia que eu murcharia sem a presença do vento. Creio que o poema realmente dá essa impressão, mas eu não chego a tanto. Sem água, murchará meu sentimento, murcharão os sons que o continente verde fizera brotar em mim. Sem água, volto a desertificar (como nunca paro. Os ratosangústias roem as bordas de mim sempre e para sempre. O afeto é só um bálsamo. "Só".). Sem água, o peso da vida escrota é maior.
Mas eu já decidi há muito que sou maluca, que quero ser feliz, que ainda hei de encontrar um momento, um lugar, um par de braços onde eu possa chorar e ser sem dor. Enquanto isso, sigo sombreando frontes sem pouco ou nada cobrar. E tendo azia.

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