Eu aprendi que era errado
Casar as minhas Barbies
Porque na escola me contaram.
Depois no colégio santo
Apontaram meus pecados,
Me fizeram enxovalhos,
Me gritaram sapatão.
E eu! Que não beijava nem meninos!
E eu! Que nem sabia o que era amor!
Já conheci o ódio e o desprezo,
Conheci o descaso da direção.
O conselho de se adequar para melhorar.
Ser boazinha, não ir tão bem na prova,
Arrumar um namorado, raspar as pernas,
Não usar moletom.
Amei minha amiga em um segredo bem guardado
Até de mim mesma, porque eu não queria
Ser o monstro de que fugiam no banheiro.
Bicho novo livre da escola
Fui forjando uma coragem que não sentia
Para amar quem não queriam.
Meios segredos, meias verdades, muito amor.
E a cada criança assassinada, suicidada,
A cada travesti espancada,
Retorce meu coração.
Sapatão. Sapatão. Sapatão.
A maioria já me enfrenta no ônibus,
Na rua, no carro com motorista que assovia.
"Olha para mim, vadia!"
Retorce meu coração.
Sapatão. Sapatão. Sapatão.
Masturbação na Era Vitoriana
Há 11 anos