Hai-kai, Mario Quintana

"Rosa suntuosa e simples,
como podes estar tão vestida
e ao mesmo tempo inteiramente nua?"

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Fomos felizes. Tivemos momentos de gargalhadas incontroláveis ou de abraços gentis. Nos separamos sem uma palavra, depois de uma briga feia, depois de diversas conversas... Eu não era nada para você, eu fui sua musa, nós fomos um bom affair, você não sabia beijar... Eu ainda fuxico o seu facebook, você comenta minhas atualizações, nos vemos de relance nos corredores do IFCS, você desapareceu para sempre, você é filho de alguém que continua na minha vida...
Todos os listados acima se aplicam a uma ou mais pessoas que passaram pela minha vida, romanticamente ou não. Eu fiquei na minha vida depois que elas foram embora, mais ou menos ferida, mais ou menos incomodada, mais ou menos satisfeita.
O que sobra de bom, principalmente, são as bandas favoritas, os filmes e os livros recomendados que vão se acumulando pelos cantinhos da memória.

Você, que passou umas horas de uma madrugada na minha casa, que foi ao cinema comigo uma única vez, ainda ouço a banda que me recomendou. Você, dos cabelos multicoloridos, que me feriu como ninguém nunca tinha feito antes e que relutei tanto em abrir mão, ainda canto pela rua, ainda leio os poemas que líamos juntxs. Você, que não entendia metáforas, ainda lembro o documentário que vimos.
A explicação para a permanência do que não devia haver, creio eu, é que me apropriei - posseira - das coisas que vocês queriam me mostrar de relance, dos flashes de existência compartilhada.

O que será que eu deixei para vocês?

terça-feira, 24 de abril de 2012

Gosto das formas silenciosamente imagéticas de declarar os afetos da amizade, esse amor normalmente descomplicado,
esse amor muitas vezes assexuado, amor que vem sem casamento no fim, sem monogamia, sem sufocamento.
Gosto desse amor que eu sei lidar, que eu sei alimentar, de que eu não tenho medo.
Na amizade, estou no controle ao estar no amor, justamente pela ausência do elemento Paixão. Essa última é o que me apavora.

domingo, 15 de abril de 2012

O segundo outono.

Você desviou os olhos dos meus. Eu não acreditei. Você não estava tão bonito. Eu estava suada e acompanhada de amigas. Você estava com ela. Ela é sua nova musa? Eu pedi isso e quis morrer quando vi que estava acontecendo.
Você não era meu. Você não era a minha Primavera. Eu nunca quis usar gaiolas e deixei de colocar alpiste no nosso poleiro. Eu pedi isso. Eu quero que isso aconteça.
E eu quis sumir. Eu quis não ter visto. Eu tentei sorrir. Sou tão egoísta! Tão mesquinha! Quero tanto que você seja feliz, longe de mim e feliz, mas... mas...
Não tem lógica. Não tem metáfora bonita. Não tem nem direito um coração partido.

Acho que ver seu novo status no facebook foi como arrumar o apartamento vazio de um morto que amamos.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Nublada

Dia cinza-ensolarado,
Cobrindo os prédios em nuanças de um amarelo-sujo.

Meus pensamentos também variam dentro de uma limitada paleta de cores.
Penso em desejo, em vergonha, em consequências, em dor, em pequenez.
Penso no meu sangrento sonho revolucionário
(reflexo da Maré Vermelha lunar, talvez?)
Patético em seus clichês e bebês imóveis como bonecas.

Lembro a angústia real derivada dos assassinatos fantasiosos.
“E se eles nada sabiam? E se eles, ao saber, quisessem mudar?”
Lembro o peso da peixeira suja em meu quadril direito

E escrevo meus sentimentos embaixo de poesia e metáforas,
Sem grandes paixões. Minto, eu sou minhas grandes paixões,
Mesmo quando elas estão adormecidas pelo cansaço.

domingo, 1 de abril de 2012

Não é uma piada de 1º de abril

Um vazio imenso me consome por vezes e suga todas as minhas forças de andar cem passos até o mar. Continuo quieta na biblioteca abafada tentando compreender o que me faz falta e, do que compreendo, porque recuso quando me oferecem. Devo comer qualquer coisa só por ter desejo de chocolates ou continuo faminta, escolhendo entre as caixas que não me parecem apetitosas (ansiando por caixas que não estão ao meu alcance)?
Quando escolho a fome, torno-me progressivamente apática e sem forças. Quando dou chances a um doce que não me abre o apetite, fico enjoada. O problema de usar doces como metáfora para relações é que doces não têm sentimentos. Doces não criam expectativas. Não temos responsabilidades sobre os doces que pensamos querer comer e mudamos de ideia depois. Pessoas sim.
E sigo irrealizada, sonhando com uma plenitude que eu quero que seja repleta de eletricidade. Mas eletricidade e afinidade dançam longe dos meus dedos ou se apresentam apenas separadas. Normalmente, a eletricidade se apresenta junto de entorpecentes como um momento do ciclo hormonal ou uma boa dose de álcool. E vai embora na manhã seguinte. Restando o nada de nada que rege os outros momentos.
Discorrer sobre isso e saber que vivo as consequências de uma escolha consciente não altera os ônus e nem os bônus da minha escolha, apenas a torna mais tolerável.
Sigo a vida sem frescuras, olhando para os lados, dançando e rindo sem desespero. Acompanhada de amigos e amantes ocasionais. Lembro a primavera passada já sem dor, apenas como um acalanto de que, se pude vivê-la em sua plenitude, posso viver outras coisas numa próxima vez.
Talvez eu devesse recorrer ao antídoto do vazio e comer chocolates reais. Ou ir ao cinema.